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Na pele de Lala


Era um dia frio, com um sol pálido que cismava em se esconder atrás daquelas montanhas. Havia uma janela grande na sala do café da manhã e dela, enquanto tomava meu café quente, pude ver mulheres e crianças vestidas de preto e cobertas por adereços coloridos sentadas no frio, esperando algo.

Preparei dois sanduíches com ovos quentes e levei até lá. Entreguei para aquela criança de olhos redondos que me olhava de forma doce, ela acolheu os sanduíches com delicadeza e agradeceu em numa língua desconhecida e um gestual que rompe barreiras. Sorriu um sorriso aberto e se virou para dividir com as outras.

A neblina cobria a todos, mas percebi quando uma pequena moça se aproximou. Em um inglês quase perfeito ela falou algo comigo, e eu no meu inglês imperfeito, não entendi nada e sorri. Ela sorriu de volta e ficamos assim nos comunicando entre sorrisos e palavras soltas. Era uma menina ainda. Mais do que uma menina era uma menina feliz. Seu sorriso largo marcado por bochechas vermelhas, pele branca e contornado pelos cabelos compridos me diziam: seja bem-vinda! Vamos conhecer meu povo!”. E assim nos apresentamos, ela seria minha guia em Sa Pa.

Assim como o vento fui seguindo seus passos rápidos e decididos, num trekking pelas montanhas, meu objetivo: conhecer as vilas onde moram as minorias, mas o que me esperava era muito mais do que isso.

Nas suas costas, enrolado carinhosamente com panos coloridos, estava seu bebê grudado em seu corpo.

Ele sorriu para mim, assim como sorria para tudo que passava por ele. Um bebê feliz com uma alma leve que flutuava, entrelaçado em uma mãe amorosa que cantava para ele, enquanto versava histórias sobre seu povo e sua vida.

Seu nome: Lala;

Sua idade: 25 anos;

Sua nacionalidade: vietnamita;

Seu Povo: Black Hmong;

Sua escolaridade: Analfabeta;

Idiomas: vietnamita e inglês (que aprendeu sozinha falando com turistas);

Estado civil: casada;

Filhos: três meninos.

O mais novo de quatro meses estava nas costas, ainda mamava no peito. Os outros dois eu não sei. Ao longo dos dias de trekking pelos arrozais de Sa Pa (cidade ao norte do Vietnam a 35 km da China) fui conhecendo a história de Lala. E é do microcosmo chamado Lala e do meu olhar sobre ele que eu vou falar da mulher Black Hmong. Nem todas as Black Hmong vivem como Lala, mas tem muito de Lala em todas as mulheres, principalmente aquelas que vivem com seu povo no alto daquela montanha.

Acompanhe essa jornada e conheça a história de Lala nos próximos textos dessa coluna:


1 - Lala e seu povo 2- Lala e seu casamento 3 - Lala e sua família de origem 4- Lala e seu trabalho


Paula Dutra


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