Depois de um cigarro, de alguns goles de cuba-libre ao som de “Tomo um banho de lua”, a lambreta parte em velocidade com a “maçaneta” na garupa. Apertada no jeans, ela é o objeto de desejo do rapaz de topete, gumex e blusão de couro. Numa esquina mais escura, caem nos braços um do outro, em prolongado amasso. Ela procura imitar as divas de Hollywood, com atitudes provocantes, olhar liquefeito, lábios convidativos. A lei é agradar. O beijo longo, enquanto ele percorre os seios sob o conjunto de ban-lon dá início às preliminares. As roupas amarrotadas e sujas selam o encontro. Pacificados os “instintos bestiais”, o rapaz segue para a casa da namorada: a moça de família. Aí as regras mínimas de um namoro sério são bem conhecidas. O rapaz deve buscá-la em casa e depois trazê-la de volta. Ele sempre paga a conta. Moças de família não abusam de bebida alcoólica e de preferência, não bebem. Conversas ou piadas picantes são consideradas impróprias. Os avanços masculinos, abraços e beijos precisam ser firme e cordialmente evitados. Importante: a moça tem que impor respeito.
Espontaneidade? Nem pensar. O que contava eram as aparências e as regras: “mesmo se ele se divertir, não gostará que você fuja dos padrões, julgará você leviana e fará fofoca a seu respeito na roda de amigos”. Durante os chamados Anos Dourados, aquelas que permitissem liberdades, acabavam sendo dispensadas, pois “o rapaz não se lembrará da moça a não ser pelas liberdades concedidas”. O tempo de namoro seguia alguns padrões: não devia durar muito, pois levantava suspeita sobre as verdadeiras intenções do rapaz. Muito longo, comprometia a reputação da moça que se tornava alvo de fofocas maldosas:
“Evite a todo custo ficar a sós! Vocês cometem o crime de roubar ao casamento, sensações que lhe pertencem correndo, o risco de frustrar a vida matrimonial”, sublinhava O Cruzeiro, em 1955. Era terminantemente proibido ter relações sexuais. Nada de “cair” ou “proceder mal”. Nas mesmas páginas de revistas, liam-se as críticas às liberdades do cinema, do rock’n roll e das “danças que permitem que se abusem das moças inexperientes”. Valorizam-se as fitas que ressaltam bons costumes e personagens bem comportados circulando em lugares bem freqüentados. Em alta: “a juventude saudável que sabe se divertir – sem escandalizar – e à brotolândia que dá exemplo de amor aos estudos e à família”..
Algumas escapam de serem chamadas de “vassourinha” ou “maçaneta” mantendo as aparências de moça respeitável. Outras são abandonadas em conseqüência de comportamentos “indevidos ou ilícitos”. Estas jovens não casariam, pois “o casamento é para a vida toda e, nenhum homem deseja que a mãe de seus filhos seja apontada como doidivanas”. Já as que se comportam como “moças de família”, não usando roupas sensuais, evitando ficar a sós no escuro, saindo só na companhia de um “segurador de vela”, estas tinham mais chance de fazer um bom casamento. Mantendo a velha regra, eram os homens que escolhiam e com certeza, preferiam as recatadas, capazes de se enquadrar nos padrões da “boa moral” e da “boa família”. A moça de família manteve-se como modelo das garotas dos anos 50 aos 70.
Mary Del Priore
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