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Brasil 500 anos e a mulher


Brasil 500 anos. Alguém já pensou no significado dessa história para as mulheres? Contrariamente ao que muitos pensam, nunca fomos “mulheres de vida fácil”. Desde os primórdios, a luta pela própria sobrevivência ou a dos seus (maridos, filhos e dependentes) foi a marca de nossas ancestrais. A dupla jornada de trabalho existiu para a maior parte delas. O trabalho no campo ou na cidade, em casa ou nas ruas, era acrescido de muitas outras tarefas, fundamentais para a estabilidade da família. Depois de um dia extenuante de trabalho fora, havia ainda o que tinha que ser feito, dentro. Cada casa era uma pequena indústria doméstica na qual se produzia sabão, colchões, conservas, geléias, embutidos, fios, lã, roupas e tudo o mais que garantisse um relativo conforto aos seus membros.


O século XX trouxe mudanças radicais para esse quotidiano. Fácil e barata, a mão de obra feminina cresceu, absorvendo populações inteiras de migrantes vindas das áreas rurais. Com as mudanças econômicas, deixava-se lentamente para trás uma maneira especial de ser mulher. Aquela que conjugava todos os papéis ao mesmo tempo. Explico. Nossas avós, diferentemente de nós, eram simultaneamente mestras, pois nos ensinavam as primeiras letras e os primeiros livros. Médicas, pois nos curavam com chás e mézinhas caseiras. Encarregavam-se de nos formar espiritualmente, independentemente do credo de cada e nos contavam ainda sobre a vida e a morte, o passado e o presente, as leis de Deus ou dos homens, numa espécie de memória vida de cada família. Hoje, tudo mudou. Dividimos com o especialista da área nossas responsabilidades de mães e mulheres: o psico-pedagogo, o fonoaudiólogo, o psicólogo, o professor de natação, de futebol, de língua, enfim, um batalhão de profissionais que trazem sua contribuição para que possamos nos dedicar cada vez mais e melhor à luta pela sobrevivência e à vida nada fácil. Vantagens, muitas. Problemas: alguns.


Não são poucos os educadores que se queixam que, muitas de nós, empurra a formação – não estou falando em educação – de seus filhos para a escola, para o psicólogo, enfim, para outrem. É como se ir para a rua, realizar-se e tornar-se boa profissional nos fizesse esquecer certas responsabilidades fundamentais. Ao final do dia, exaustas, recorremos às próteses pós-modernas, substitutas dos serviços da indústria caseira que não existe mais. Tudo pode ser comprado na esquina de casa e os eletro-domésticos fazem o resto. Mas, e quem depende de nós? Talvez seja esse o momento de repensarmos nossa relação com os nossos entes mais queridos.


Mari del Priore



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