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Bauman já sabia!


A cada dia que passa eu me sinto mais inadequada ao mundo contemporâneo. Mais demodê, fora de moda, o sentimento de não pertencimento é latente. Bauman, em sua teoria da modernidade líquida diria que “vivemos tempos líquidos, nada é feito pra durar, tampouco sólido. Os relacionamentos escorrem das nossas mãos por entre os dedos feito água”. O que eu percebo do mundo é que as pessoas não se preocupam mais nem em disfarçar o quanto objetificam os seres humanos. Tudo e TODOS são substituíveis. E tudo e TODOS têm função certa e se não atendem às promessas da “compra”, não são relevantes. Temos um copo, aquele copo tem a função de depositar líquido ou afim. Se queremos outra função, buscamos outro objeto. Não sei se a consolidação do capitalismo fez com que essa gente introjetasse a rapidez com que se adquire um novo produto – sem defeitos, atualizado; Não sei se o mundo se tornou mais egoísta desde que eu nasci ou se sou eu que nasci no tempo errado, mas eu não consigo lidar com as relações humanas de uma maneira tão superficial. Não consigo simplesmente substituir uma pessoa por outra dada a finalidade que busco. Não vou ser hipócrita ao dizer que nunca tomei a consciência de que "fulaninho" não me atenderia em tais aspectos e por isso o adaptei para outra incumbência na minha vida, mas o descarte não é conhecido no meu vocabulário. Se o copo está velho ou sujo demais para tomar água, ele vai servir para acolher uma planta ou sei lá, canetas.       Eu me sinto todos os dias pressionada a ser uma pessoa escrota. Eu persisto, insisto em ser límpida, sincera, clara, em permanecer, ainda que de forma adaptada, na vida dos que passam pelo meu caminho, porque entendo que não somos produzidos em massa e temos todos nossas rasuras e imperfeições, seria normal entender que cada pessoa é única e tem seu próprio modo de operação e particularidade, no geral, eu sou bem compreensiva, mas tô começando a achar que isso é errado. Que eu não tô seguindo o roteiro, a tabela. Eu tendo a acreditar que pessoas são salvas por pessoas e que a empatia é ESSENCIAL pra viver em sociedade, mas o que eu vejo são pessoas que vivem com elas mesmas todas juntas num mesmo recorte espacial. O que vale é a serventia de determinada pessoa num determinado momento muito específico, o tempo (cada vez mais ansioso) age soberano fazendo com que aquele ser humaninho qualificado e único que estava certo no momento certo, passe como num passe de mágica para errado. Meus amigos e família me questionam o porquê da minha depressão e eu quase nunca consigo responder, mas o que eu sei é que cada vez que eu olho para o lado mais pessoas se entristecem e caem nas armadilhas dessa doença.        Meus amigos, família (e psicóloga) me falam sobre o amor próprio. Ora, se eu vivo num mundo onde a insegurança e certeza de que eu não posso ser amada, porque ninguém é capaz de amar de fato, e de que eu não posso amar porque não serei correspondida, como posso eu internalizar que devo me amar? Que devo ter o mínimo de amor próprio? Eu não sei o que vocês tão lendo, o que vocês tão ouvindo, ou que remédio vocês tão tomando, mas eu preciso dizer que vocês tão me adoecendo e se adoecendo. “Vocês” não pessoas específicas, “vocês” humanidade. “Vocês” que seguem a vida sem se responsabilizar pelo outro, sem cuidar, sem relativizar, que é a base para qualquer tipo de conexão interpessoal. É tanto ódio, tanta agressividade por nada. A gente faz uma pergunta, a pessoa responde com três golpes de faca. A gente se interessa por como a pessoa está seguindo a vida, porque se interessa mesmo, porque se preocupa, porque gosta, é porta atrás de porta batida com força na cara. Eu cheguei a conclusão de que o mundo só quer saber de si e o sol não é mais o centro da terra. Mermão, se tá tão difícil assim ter empatia, comprem suas ilhas, comecem a viver sozinhos de verdade, porque ainda tem gente que é atingida direta e indiretamente apenas pela condução dos seus atos. A vida não é só ganhar, aceitem. Parem de querer roubar e sair correndo antes do sinal da partida. O mundo é coletivo, NINGUÉM vive sozinho.       E evocando novamente aquele que percebeu isso antes de mim: "Para ser feliz há dois valores essenciais que são absolutamente indispensáveis [...] um é segurança e o outro é liberdade. Você não consegue ser feliz e ter uma vida digna na ausência de um deles. Segurança sem liberdade é escravidão. Liberdade sem segurança é um completo caos. Você precisa dos dois. [...] Cada vez que você tem mais segurança, você entrega um pouco da sua liberdade. Cada vez que você tem mais liberdade, você entrega parte da segurança. Então, você ganha algo e você perde algo". Três vivas pro Tio Zyg.


Maria Mangeth

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