Sempre que eu conheço alguém que me interessa romanticamente eu caio nas mesmas armadilhas. Acabo me colocando em situações extremamente confusas e sinto que cada vez que eu tô perto de amar alguém, me retraio como um caranguejo entrando em sua casca. Eu não tenho nada em câncer. Pelo contrário, meu mapa astral – se é que isso dita alguma coisa mesmo – é todo ar e fogo. Eu sou intensidade pura e quando alguém me arrebata por essas esquinas da vida, bom... eu me jogo mesmo de corpo todo e alma escancarada.
O fato é que nesse mundo de amor líquido tem um jogo a ser jogado. Não pode demonstrar afeto, não pode fazer carinho, não pode responder na mesma hora que recebeu a mensagem, quiçá estar online e conversando em tempo real. Não pode ficar disponível demais, não pode dizer demais, não pode, não pode, não pode. Em que ponto se relacionar virou essa sobreposição de interdições? Seria tão mais fácil se a gente soubesse em que ponto o outro tá, ou melhor, seria tão mais fácil se a gente respeitasse o nosso próprio sentimento.
Se alguém passa na sua vida, mesmo que seja por uma noite, e ela consegue te arrebatar a ponto de marcar qualquer coisa que seja na sua memória, por que raios você tem que esconder isso dela? Ou mais importante, por que raios você tem que esconder isso de você?
Quando eu era criança, eu admirava muito as pessoas que tinham coragem de se jogar na vida. Se jogar mesmo, fazer acontecer. Eu acreditava que sentir era uma das maiores dádivas do ser humano, sentir e saber que sente, ter consciência de que o afeto se constroe e como eu ouvi uma vez, a consciência de que “pessoas são salvas por pessoas”. Somos seres sociais e é impossível ignorar isso. Você já sentiu que às vezes um “bom dia” te impacta de forma que não tem como voltar atrás? Eu sim, mas fui, como todo mundo com quem eu convivo, sendo envenenada com essa série de “nãos” que as relações vão dando ao longo do tempo. Fui levada a acreditar que a minha intensidade, a minha forma de querer bem ao outro e de ser afetada pelo outro, era muito errada. “Assusta, é pesado, afasta as pessoas” e assim fui me tornando esse ser humano que se poda.
Dia desses, conheci uma dessas pessoas que mexem com tudo aqui dentro. A conversa foi boa, o sexo foi bom, a cumplicidade ali, naquele momento, foi maravilhosa. E sim, como era de se esperar, eu me apaixonei. Mas é que eu não entendo o peso que colocam nessa coisa de se apaixonar. Não é assim que a gente vive ou pelo menos deveria viver? Se apaixonando pelas pessoas e percebendo que cada ser que passa na sua vida tem algo de incrível? Bom, eu ainda vejo o incrível no outro, o quê de mágico que há dentro das pessoas: o modo como mexe no cabelo, o sorriso que contempla um universo, a bobeira da piada mal feita, o modo como se preocupa com o mundo ou menos, como fuma um cigarro atrás do outro quando fica nervosa.
Eu me apaixono por pessoas que vão ser só minhas amigas, por pessoas com quem vou foder uma noite inteira e vai ser só isso, por pessoas que nem isso, só passaram na minha frente e eram sei lá, solares. Eu me apaixono e vejo o incrível do mundo. E tá errado isso? Tá errado não querer jogar esse jogo estúpido onde as pessoas nem se respeitam e nem respeitam o direito do outro de negarem ou aceitarem sentimento? Eu não sei se o mundo se tornou mais frio, eu não sei se as pessoas desaprenderam a valorizar os momentos que tem, porque bom, a vida é efêmera... como diria Clarice Lispector: “a vida é de se viver porque em pleno dia se morre”. E morre mesmo atravessando a rua, engasgado com uma espinha de peixe, morre de câncer, mal súbito. Enfim, a vida passa e a gente vai deixando ela passar sem aproveitar cada segundo dela.
Eu sei que dar amor nesse mundo caótico é difícil, tá todo mundo muito calejado, como aqueles cães abandonados que tem medo até de cafuné. É difícil mesmo, amar e se deixar ser amado, mas não acho que seja a melhor escolha deixar escapar sentimentos que te tiram
do prumo. Se você sair da rota, tem como voltar, não precisa ter medo de tudo. Não precisa ter medo de demonstrar, de dizer o que pensa, o que sente, não precisa. Eu não preciso. E mais importante, eu não quero. Eu quero é amar, amar até fazer nevar no Rio de Janeiro, amar sempre, por uma noite ou pela vida toda, mas sempre saber que posso amar. Eu não acho que eu deva me ferir guardando coisas que são essencialmente tão boas. Não se fira também não... deixa explodir, amar é SEMPRE bom. Só pode ser isso.
Maria Mangeth
Foto de capa: criado por jannoon028 - br.freepik.com</a>
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