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Adeus, amor, adeus!

Levei um pé na bunda. E foi um pé na bunda bem dado, daqueles que faz você dizer pra todos os seus amigos que NUNCA MAIS você vai se apaixonar de novo, porque o amor é ruim; porque o amor pega você, diz que o Papai Noel existe e depois diz que não vai ter presente no natal porque você não foi uma boa menina; porque o amor esconde a caloria do rótulo e quando você vai ver, engordou cinquenta quilos do dia pra noite; porque o amor te engana. Ora, se a Fátima Bernardes e o Willian Bonner não estão mais juntos, se a Angelina e o Brad Pitt terminaram, que que é o amor se não uma porra escrota que entra no nosso caminho pra confundir a cabecinha do ser humano e no final deixar a gente em casa, sozinha, fumando dois maços de cigarro por dia, ouvindo a versão da Alcione de “Sua Estupidez”, aos prantos, enquanto pede um bolo de churros GRANDE com calda de doce de leite na Fábrica de Bolos da Vó Alzira? Ou se você preferir outro cenário: que que é o amor se não um sentimentozinho sacana que faz com que você ache extremamente necessário provar que tá bem pós pé na bunda, saindo pra um bloco de pré-carnaval, tomando catuaba e cerveja a rodo, pegando pessoas indiscriminadamente, indo pra cama com alguém e chorando escondidinho pra pessoa não achar que você é maluca? Ele te leva pra lugares muito escuros, é tipo deep web, sempre tem como ir mais fundo.


Tá, o amor não é tão ruim assim e eu nem tô falando de todo tipo de amor, mas sim de um muito específico, aquele que faz você se enfiar numa relação a dois (desconsidere a quantificação se você não for monogâmico), mas quando você termina o tal do relacionamento – seja ele qual for, ele faz você pensar coisas ruins sobre tudo. Porque é mais fácil maldizer o mundo e se apegar a todas as partes ruinzinhas pra virar alguma chave lá dentro, como se num passe de mágica, só porque você não quer mais sofrer, você simplesmente conseguisse controlar as suas emoções ao ponto que só se sinta coisas boas pro resto da vida, sem oscilações, sem choro escorrendo pela parede do banheiro (quem nunca?), sem o desespero de ver o dito-cujo que, na sua cabeça – e friso, NA SUA CABEÇA –, resolveu, voluntariamente, destruir seu coração completamente curado, sem nenhuma marquinha.


O fato é que junto com uma crise renal, a morte da minha cachorra e aquele episódio do avião de Grey’s Anatomy, essa coisa de término é uma das maiores dores que eu já senti na vida. Eu fico paralisada, achando que nunca mais vou sair desse sofrimento, que o jogo acabou pra mim e como se isso já não doesse o bastante, eu mesma procuro formas de tortura bem eficazes pra acentuar essa "fossinha". Mas não me julguem! Num mundo digital, é impossível não ficar conferindo se a pessoa tá online, se já postou foto feliz, se tá transando pra caralho com outras mil pessoas ou pior, se tá transando pra caralho com uma pessoa só que, obviamente, não é você.


Eu tenho 26 anos e três términos na conta, um pior que o outro. Eu sei que não é muita coisa e que eu não devia estar tão amargurada e no fundo, eu não estou, mas é que superar um grande amor tem também a ver com se reencontrar, reaprender o próprio cotidiano e isso é difícil demais. Quando você se despede de alguém, você não se despede só daquela pessoa física, você não se despede só do presente ou dos momentos bons que vocês passaram juntos. É como dar adeus também pra todo um futuro imaginado em conjunto: os planos de sexta-feira, aquele casamento em dezembro que você já sabia que tinha acompanhante, os próximos domingos chuvosos sem conchinha, viagens, filmes, tanta coisa que você queria fazer e ver com aquela pessoa... É realmente isso de se reencontrar, de reaprender a ser só e no meu mundo, isso é quase como engatinhar pra dar os primeiros passos. Reinventar uma vida inteirinha pra viver comigo mesma.


Verdade seja dita, no final das contas, ninguém morre de amor. Eu mesma não conheço um só caso. E se de todas as possíveis causas de morte, nenhuma vem com esse diagnóstico, dá pra gente só entender que as coisas acabam, uma hora ou outra. Trepadas, namoros, casamentos, amizades e até empregos. É foda? Pra caralho, mas a gente continua vivo, a gente continua aqui, não? A Fátima tá super feliz com o Túlio e a Angelina tá maravilhosa sozinha, amando a si mesma, saca? Ou de repente nem tão felizes, mas vão ficar, porque assim como um relacionamento acaba, também acaba a dor que vem com o fim, eu sei disso, eu já passei por dois antes desse. Quando passa o pico da dor de cotovelo, como dizem, a gente enxerga que o fim é sempre um começo, é clichê, mas é isso. E um término não quer dizer que você falhou ou que foi uma perda de tempo e que se apaixonar é uma desgraça e não vale a pena. Eu consigo olhar pra trás e ver quanta coisa eu perderia se lá no meu primeiro término, eu tivesse realmente desistido desse jogo. Mais dia, menos dia, o céu volta a ser azul, você volta a achar as pessoas realmente bonitas, você percebe que ir ao cinema sem chamar ninguém é legal também e porra, como é bom dormir numa cama de casal sozinha. Você vai chegar no fim de um dia e perceber que foi bom o tempo que foi e foi lindo pelo tempo que tinha que ser: a vida é isso, renovação diária. Eu confesso que ainda estou no processo de entendimento, mas sei lá, no fundo, no fundo? O amor deve ser isso também.


Maria Mangeth



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